CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Sessão: 031.4.53.O Hora: 14:14 Fase: PE
Orador: NELSON BORNIER, PMDB-RJ Data: 09/03/2010

O SR. NELSON BORNIER (Bloco/PMDB-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ontem comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Os dados do Brasil e do mundo mostram grandes progressos nos campos da educação, do trabalho e até da política. Nos idos dos anos 50, no Brasil, o marido e os filhos mais velhos comiam em primeiro lugar e recebiam a melhor parte da comida; as mulheres, mães e filhas, aguardavam que eles terminassem para depois começar a comer; em público, esperava-se que as mulheres ficassem quietas e em segundo plano.

São constatações simplesmente escandalosas para os dias atuais, mas essa foi a realidade por muito tempo. Hoje, em muitas áreas, as mulheres brilham mais do que os homens. O desempenho das meninas na escola é superior ao dos meninos. Em várias profissões, as mulheres dominam, como é o caso de médicas, dentistas, advogadas, arquitetas, juízas do trabalho.

Ao contrário dos países da Europa e do Japão, nos quais as moças não querem ter filhos, as mulheres brasileiras continuam ativas nesse campo. O Brasil tem mais de 46 milhões de mães. A média de filhos por mulher caiu bastante nas últimas décadas, mas, ainda assim, elas estão repondo as gerações que se vão. Em certas faixas etárias, a taxa de fecundidade é tão alta que constitui problema social. Para cada 100 adolescentes, em 1980, havia 8 filhos; hoje, saltou para mais de 9 filhos. Entre as meninas pobres, a média é ainda mais alta. Nas favelas do Rio de Janeiro chega a 26 filhos. O número de mães solteiras aumentou de 2,7% para 16,4% no período considerado.

Isso tem grandes repercussões, embora seja preciso reconhecer que muitas mulheres vêm optando deliberadamente pela "produção independente". Nesse campo houve verdadeira revolução de valores. Até o final dos anos 50, o relacionamento sexual entre homens e mulheres se baseava no engajamento amoroso de longa duração.

Na década de 60, o mundo assistiu, atônito, à separação entre sexo e casamento. O sexo foi atrelado à sinceridade dos parceiros e não necessariamente ao matrimônio. Hoje em dia, o casamento vem se separando da família. Muitas crianças são criadas por parceiros não casados e que não pretendem se casar. No período de 1970 a 1975, a proporção de mães isoladas saltou de 7,5% para 17,5%.

Resta saber qual será o impacto dessa revolução no produto dos novos relacionamentos - os filhos. Para a mulher já se sabe: sobrecarga de trabalho. Cerca de 30% das mulheres que trabalham são chefes de domicílios e vivem sós, com os filhos, sem cônjuge. Muitas são aposentadas e continuam trabalhando para sustentar a família.

A mulher vive mais do que os homens. Para cada 100 mulheres idosas (60 anos de idade e mais), há apenas 82 homens. Em 1991, as idosas eram 7,8% da população. Hoje são mais de 10%.

Mas o que elas fazem com mais anos de vida? Muitas desfrutam o amor em família; outras amargam a solidão. Isso porque a mulher, quando enviúva, raramente casa novamente. O homem sistematicamente recasa.

As viúvas que moram com filhos e noras (ou genros) têm uma vida apertada. Na ausência das filhas e noras que trabalham fora, muitas delas assumem a administração da casa e os cuidados das crianças. Em inúmeros casos, elas contribuem financeiramente com sua aposentadoria e pensão. Ou seja, os anos extras das mulheres não são fáceis.

Então, o que comemorar no Dia Internacional da Mulher? Não se pode ignorar o avanço que as mulheres alcançaram em matéria de educação e profissão, assim como no campo dos direitos individuais. Mas, mesmo nessas áreas, a caminhada é longa para se chegar a uma situação de maior igualdade.

As mulheres têm demonstrado garra e competência. O que resta ser feito depende muito de os maridos e companheiros aceitarem a nova divisão do trabalho, na qual os homens passem a dividir com as mulheres, de maneira mais equânime, as tarefas do lar e os cuidados com as crianças. Os que prometeram isso deram belo presente a suas mulheres neste dia festivo.

O Dia Internacional da Mulher, 8 de março, está intimamente ligado aos movimentos feministas que buscavam mais dignidade para as mulheres e sociedades mais justas e igualitárias. Foi a partir da Revolução Industrial que essas reivindicações tomaram maior vulto, com a exigência de melhores condições de trabalho, de acesso à cultura e de igualdade entre os sexos. As operárias da época eram submetidas a um sistema desumano de trabalho, com jornadas de 12 horas diárias, espancamentos e ameaças sexuais.

Dentro desse contexto, 129 tecelãs da fábrica de tecidos Cotton, de Nova Iorque, decidiram paralisar os trabalhos, reivindicando o direito à jornada de 10 horas. Era 8 de março de 1857, data da primeira greve norte-americana conduzida somente por mulheres. A Polícia reprimiu violentamente a manifestação, fazendo com que as operárias refugiassem-se dentro da fábrica. Os donos da empresa, junto com os policiais, trancaram-nas no local e atearam fogo, matando carbonizadas todas as tecelãs.

Em 1910, durante a 2ª Conferência Internacional de Mulheres, realizada na Dinamarca, foi proposto que o dia 8 de março fosse declarado Dia Internacional da Mulher, em homenagem à memória das operárias de Nova Iorque.

Para você que busca no dia a dia a sua independência, a sua liberdade, a sua identidade própria; para você que luta profissional e emocionalmente para ser valorizada e compreendida; para você que a cada momento tenta ser a companheira, a amiga, a "rainha do lar"; para você que batalha incansavelmente por seus próprios direitos e também por um mundo mais justo e por uma sociedade sem violências; para você que resiste aos sarcasmos daqueles que a chamam, pejorativamente, de feminista liberal, e que já ocupa um espaço na fábrica, na escola, na empresa e na política; para vocês que têm a capacidade de gerar outro ser, temos o dever de gerar alternativas para que a ação criadora realmente ajude outras mulheres a conquistarem a liberdade de ser.

Era o que tinha a dizer.