Em abril, o presidente da República, Juscelino Kubitschek (PSD), inaugura Brasília. Em outubro, o Brasil sai dividido das eleições gerais: elege como presidente o conservador Jânio Quadros, apoiado pela UDN, e como vice-presidente João Goulart, do PTB, apoiado pela esquerda trabalhista.
Jânio toma posse em janeiro. Reata com o FMI, combate a inflação, mas irrita conservadores ao condecorar Che Guevara, herói da revolução comunista em Cuba. Em 25 de agosto Jânio renuncia e abre uma crise porque os militares não aceitam a posse do vice João Goulart, que estava em viagem à China. Assume interinamente o presidente da Câmara, Ranieri Mazzili. O governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, lança a Campanha da Legalidade para garantir a posse de Jango.
O Congresso diminui os poderes do presidente da República, adotando o parlamentarismo. O deputado Tancredo Neves é eleito primeiro-ministro. Diante da crise política, os EUA consideram derrubar o governo brasileiro. Milhões de dólares em propaganda instigam o medo da “ameaça comunista”.
Em janeiro, um plebiscito restabelece o presidencialismo e Goulart assume a presidência. Pretende distribuir terras, controlar as remessas de lucros das multinacionais e fazer as reformas tributária e eleitoral. Sem maioria no Congresso, Jango busca apoio dos trabalhadores e sindicatos. Em setembro, ocorre em Brasília a “Revolta dos Sargentos”.
Em 13 de março, Jango conclama o povo a apoiar as reformas, no comício da Central do Brasil, no Rio. No dia 30, fala no Automóvel Clube para tenentes e suboficiais. Na madrugada seguinte, tropas golpistas saem de Minas para prender o presidente no Rio. Jango voa para Brasília e depois para Porto Alegre. Na madrugada de 2 de abril, o Congresso declara o cargo vago e assume o interino Ranieri Mazzili. Militares baixam o primeiro Ato Institucional, cassam parlamentares, e o Congresso elege o general Humberto Castello Branco presidente da República.
Castello Branco baixa o Ato Institucional 2 em resposta à eleição de governadores de oposição no país. Intervém no Judiciário, acaba com partidos e cria apenas dois: a ARENA, que abriga os governistas, e o MDB, com os parlamentares de oposição, como Marcos Freire. As eleições previstas para esse ano são suspensas.
Em julho, ocorre um atentado a bomba em Recife contra o então ministro da Guerra, Artur Costa e Silva, deixando mortos e recrudescendo o debate entre militares. Apesar da repressão, estouram greves, e estudantes começam a sair novamente às ruas. Militares cassam políticos que os apoiaram, acabando com a esperança de volta à democracia. Baixados o AI-3 e o AI-4.
Entra em vigor a Constituição de 1967, elaborada por quatro juristas a pedido do governo e aprovada por uma comissão de 22 parlamentares. Costa e Silva toma posse em março, como presidente indicado pelo Exército e eleito pelo Congresso. Em julho, morre em acidente aéreo o marechal Castello Branco. Movimento estudantil vira trincheira de resistência nas escolas secundárias e universidades.
No mundo e no Brasil surgem grandes manifestações. No Rio, morre o estudante Edson Luiz, o que provoca novas e maiores passeatas com artistas, religiosos e intelectuais.
O deputado Márcio Moreira Alves denuncia torturas e chama o povo para protestar em 7 de setembro. O governo não consegue licença para processá-lo e baixa o AI-5, fechando o Congresso em dezembro.
Crescem as organizações de luta armada e os assaltos a bancos, roubos de armas e deserção de militares favoráveis aos guerrilheiros, como o capitão Carlos Lamarca. Em setembro, ocorre o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, com a participação de Vera Silva Magalhães, Fernando Gabeira e outros, em troca da libertação de presos políticos como José Dirceu. Morre numa emboscada o ex-deputado e líder da ALN Carlos Marighella.
Em janeiro é presa em São Paulo a "guerrilheira" Dilma Rousseff, da Vanguarda Armada Revolucionária (VAR) Palmares, organização que havia tomado um cofre onde o ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros guardava US$ 4 milhões originários de corrupção. Começam a censura e incursões militares na região paraense do Bico do Papagaio, no rio Araguaia, onde surgiria a guerrilha rural do PCdoB.
Militares conseguem desbaratar os comandos das principais organizações de guerrilha urbana. A repressão se volta contra religiosos, intelectuais e políticos de esquerda. Depois de se encontrar com o amigo Waldir Pires, o ex-deputado Rubens Paiva (PTB-RS) é preso em sua casa, no Rio, e torturado até a morte. Em nota à imprensa, os militares simulam um ataque guerrilheiro, seguido da libertação do preso, o que se revelaria uma farsa para encobrir o crime.
Em abril, nova expedição do Exército derrota o foco guerrilheiro do PCdoB, no Araguaia. Em setembro, o presidente, general Emilio Médici, inaugura o que seria o primeiro trecho da Transamazônica. Governos militares da América do Sul coordenam ações de repressão, com a Operação Condor.
Exilados brasileiros que haviam escapado do Uruguai e da Argentina são vítimas do golpe militar no Chile, que derruba o primeiro presidente marxista eleito pelo voto popular no continente, Salvador Allende. Ditadores do Brasil e do Paraguai assinam tratado para construir a usina de Itaipu na fronteira. O general Ernesto Geisel, do grupo original de golpistas, é escolhido para suceder Médici.
Em janeiro, o general Geisel é confirmado presidente pelo Congresso, obtendo na eleição indireta 400 votos, contra 76 do candidato do MDB, deputado Ulysses Guimarães. Em novembro, eleições parlamentares dão pela primeira vez vitória numérica à oposição, o que obriga os militares a começar a falar em “abertura lenta e gradual” do regime.
Governo dá sinais de distensão, recebendo dirigentes de países da antiga União Soviética. Mas setores radicais das Forças Armadas não concordam com a abertura de Geisel. Em outubro, o DOI-Codi de São Paulo tortura e mata o jornalista Vladimir Herzog, suspeito de participar de uma célula comunista. Tentam dissimular o crime, divulgando fotos para mostrar que o diretor da TV Cultura teria se enforcado na cela.
Em janeiro, o metalúrgico Manuel Fiel Filho é torturado e morto no DOI-Codi, em São Paulo. Geisel manda demitir o general Ednardo D´Ávila, comandante do II Exército, abrindo uma crise com a "linha-dura". O funeral do ex-presidente JK, morto em acidente de carro não esclarecido, leva multidões às ruas de Brasília, sem repressão ostensiva. Em dezembro, três dirigentes do PCB são mortos em tiroteio em SP, na chamada Chacina da Lapa.
Em abril, Geisel fecha o Congresso por duas semanas e baixa um pacote de medidas de reorganização política. Os conservadores perdem a votação no Congresso que aprovou o divórcio. O escritor Jorge Amado, que havia sido militante comunista na juventude, lança o romance “Tieta do Agreste”, sem problemas com a censura.
A visita do presidente democrata Jimmy Carter, dos EUA, mostra que Washington já não apoia a ditadura brasileira. Geisel assina decreto-lei proibindo greve nos serviços públicos e extingue o AI-5 por uma emenda constitucional. Em outubro, o general João Figueiredo é eleito presidente da República pelo Congresso. Em dezembro, é revogado o banimento de 122 brasileiros que estavam proibidos de viver no país.
Em março, assume o último general-presidente, João Figueiredo. Em agosto, após negociação com a oposição e movimentos da sociedade civil, é sancionada a Lei da Anistia, que perdoa de crimes tanto os agentes de Estado que torturaram e mataram quanto os opositores que recorreram à luta armada para derrubar a ditadura. Quem estava no exílio começa a voltar ao Brasil.
A visita de 12 dias do papa João Paulo II ao Brasil reforça o clima de alguma liberdade para multidões se reunirem nas ruas sem repressão. No final do ano, o Congresso aprova por unanimidade a emenda constitucional que restabelece eleições diretas para governadores de Estado e do Distrito Federal. O movimento sindical ganha força: intelectuais de esquerda, religiosos e metalúrgicos criam o Partido dos Trabalhadores, no ABC paulista.
Em fevereiro, o líder metalúrgico Luiz Inácio da Silva é condenado com outros sindicalistas a três anos de prisão por “incitamento à desordem coletiva”. A ala radical dos militares promove um atentado a bomba no estacionamento do Riocentro, durante show do Dia do Trabalhador, em que um sargento morre e um capitão do Exército fica ferido.
Franco Montoro (PMDB) e Reinaldo Barros (PDS) fazem o primeiro debate eleitoral na disputa pelo governo de SP. Em junho, são condenados à prisão, pela Lei de Segurança Nacional, os padres franceses Aristides Camio e François Gouriou, e mais 13 posseiros da região do Araguaia. Em novembro, ocorrem eleições para governador, prefeito, deputado federal e senador. Em dezembro, são presos 91 militantes comunistas que participavam de um congresso em SP.
O ano começa com com forte desvalorização do cruzeiro e crise econômica. Tomam posse 22 governadores eleitos diretamente, pela primeira vez desde o golpe. É criada em São Paulo a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Um jovem deputado de Mato Grosso, Dante de Oliveira, apresenta uma emenda à Constituição propondo o restabelecimento de eleição direta para presidente. “Diretas Já” vira bandeira de comícios, primeiro em Pernambuco, depois em Goiás, Paraná e outros estados.
Ulysses Guimarães assume a liderança da campanha “Diretas Já”. São dezenas de manifestações em todo o país, reunindo cada vez mais gente. Às vésperas da votação, marcada para 25 de abril, o governo militar decreta “estado de emergência” no Distrito Federal e em alguns municípios em volta de Brasília, censurando a imprensa, proibindo manifestações e aumentando a repressão policial-militar. Deputados governistas não comparecem à sessão do Congresso e a emenda das Diretas não atinge a votação necessária, gerando comoção nas ruas.
Em janeiro, o Congresso elege pela primeira vez um civil para a Presidência: o oposicionista moderado Tancredo Neves, com 489 votos, contra 180 de Paulo Maluf, candidato dos militares. Tancredo adoece e morre antes de tomar posse e assume seu vice, José Sarney, primeiro presidente civil desde 1964. Logo depois, o Congresso aprova a emenda constitucional que restabelece eleições diretas, praticamente encerrando os 21 anos de ditadura.
Em meio a grave crise econômica, o Plano Cruzado troca a moeda, congela preços e mobiliza a população para fiscalizar supermercados. A Polícia Federal usa helicóptero para caçar gado que os fazendeiros escondiam no campo, esperando o fim do congelamento. O plano fracassa em menos de um ano, os juros explodem, volta a hiperinflação. Em novembro, o país realiza eleições diretas para governadores, senadores, deputados federais e estaduais.
Em fevereiro, instala-se a Assembleia Nacional Constituinte, com deputados e senadores eleitos no ano anterior, para escrever uma nova Constituição para o Brasil pós-ditadura. É lançado o segundo plano econômico, pelo então ministro da Fazenda, Bresser Pereira. Em agosto, o PT lança Lula candidato à Presidência da República. As atenções do país estão voltadas para a nova Constituição.
A Assembleia Constituinte amplia o mandato de José Sarney de quatro para cinco anos, acaba com a censura e criminaliza a tortura. O texto final da Constituição é aprovado por 474 votos (15 contra e 6 abstenções) e promulgado em 5 de outubro, como a “Constituição Cidadã”. Fim de uma era, começo de outra.