CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

Sessão: 224.2.54.O Hora: 15:20 Fase: PE
Orador: FERNANDO FERRO, PT-PE Data: 21/08/2012

O SR. FERNANDO FERRO (PT-PE. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero manifestar meu estranhamento em relação ao pacto de silêncio que estamos verificando na chamada CPMI do Cachoeira no que se refere à convocação de representantes do Grupo Abril e do jornalista Policarpo Jr.

Sob o discurso de liberdade de imprensa, vemos a tentativa de se proteger uma delinquência jornalística praticada em parceria com o crime organizado. Não há outra definição.

As recentes informações dando conta de que a namorada do Sr. Carlos Cachoeira ameaçou um juiz com um dossiê produzido pelo jornalista Policarpo Junior revelam a extensão do problema e a ousadia desse grupo mafioso. Sim, porque é uma prática da máfia, de grupos criminosos, perigosos e altamente articulados a feitura de dossiês para chantagear juízes - dossiês produzidos por jornalistas a serviço de criminosos, como o Sr. Carlos Cachoeira.

Esse silêncio me deixa com outra dúvida: será que existem Deputados ou Senadores da CPMI também ameaçados por dossiês do Cachoeira? Porque, ao se recusarem a convocar esse elemento, claramente dão sinais de que ou têm medo ou são cúmplices desses delinquentes. E isso é extremamente preocupante. Sugiro ao Presidente da CPMI que inquira, que pergunte aos membros da Comissão se está havendo alguma chantagem.

Não encontro, Deputado Vieira da Cunha, explicações para esse silêncio, para esse medo de convocar o referido jornalista. Por muito menos, na Inglaterra foi aberto um processo que culminou no fechamento de um jornal de grande expressão, devido a problemas de espionagem política patrocinada por esquemas que utilizaram jornalistas.

Prefiro não crer que os Parlamentares da CPMI contrários à convocação estejam sob a ameaça de um dossiê. Prefiro até acreditar que seja uma blindagem de boa-fé, sob o argumento de que ainda não seja hora de convocá-lo. Mas paira-me uma dúvida neste momento em que há uma grande preocupação em se dar maior dimensão ao chamado escândalo do mensalão e praticamente se retira de cena fatos de tamanha gravidade.

Uma senhora chegou ao cúmulo, ao extremo de ameaçar um juiz com um dossiê, para tentar a liberação do seu comparsa! Isso é inaceitável em uma democracia!

Apelo, então, para os Parlamentares que participam da CPMI no sentido de que convoquem o Sr. Policarpo e o Grupo Abril, para que falem sobre suas relações com Carlinhos Cachoeira. Isso será muito bom para a democracia e para desmascarar certo tipo de jornalismo que faz associação com o crime organizado para promover dossiês, ameaças e escândalos, como temos visto ocorrer neste País.

É bom para a democracia e para a cidadania deste País reconhecermos que não há privilégios e que não se pode utilizar o argumento da liberdade de para impedir uma investigação. A liberdade de imprensa é garantida constitucionalmente - e a defendemos. Queremos uma imprensa livre e com capacidade de fazer investigações, mas não podemos admitir a associação e parceria da imprensa com o crime organizado. Isso, sim, merece investigação. E é o caso de Policarpo Jr, da revista Veja e do Grupo Abril.

Portanto, Sras. e Srs. Deputados, a CPMI tem a obrigação de fazer essa convocação para trazer os devidos esclarecimentos ao País e enfrentar esses criminosos. Caso contrário, a Comissão vai passar para a história como cúmplice ou como medrosa.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Sr. Junji Abe, § 2º do art. 18 do Regimento Interno, deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Mauro Benevides, § 2º do art. 18 do Regimento Interno.

O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) - A Casa fica inteirada, nobre Deputado Fernando Ferro, do apelo que V.Exa. dirige à CPMI no que tange à convocação de determinadas pessoas.

E V.Exa., com o prestígio que tem, sem dúvida terá o seu pleito acolhido pelo Presidente da Comissão, o nobre Senador Vital do Rêgo Filho.